A exposição a tela de celular e computadores pode causar problemas na visão. E agora no período de isolamento social é preciso ficar atento. Como temos mais tempo em casa geralmente ficamos mais tempo ligados também. E com as crianças não é diferente.

Com as normas para o distanciamento social impostas pela pandemia do covid-19, cada vez mais as pessoas estão usando smartphones, tablets e computadores seja para o trabalho em regime de home office, seja para trabalhos escolares ou diversão.

No entanto, um fenômeno já detectado antes com o aumento do uso de computadores, vem se acentuando: a síndrome visual relacionada a computadores: uma série de sintomas visuais, entre os quais cansaço, sensação de corpo estranho, ardência, dor, irritação, vermelhidão, ressecamento e turvação visual.

Estima-se que até 90% dos usuários de computador por mais de três horas diárias apresentam algum tipo de sintoma relacionados à srvc.

Uma das principais causas desse cansaço visual é o ressecamento ocular (síndrome do olho seco).

Leia também: Exercício ajudam pra evitar problemas respiratórios.

A diminuição do piscar, associada a outras condições ambientais, oculares e sistêmicas, com o ar condicionado, ventiladores, pouca ingestão de líquidos, uso de medicamentos (diuréticos, betabloqueadores) e o fumo, podem contribuir para agravar a svrc.

Recomendações da Sociedade Brasileira de Oftalmologia

Lembrando que a maioria dos indivíduos pisca 10 a 15 vezes por minuto e que estudos mostram que esta taxa pode diminuir até 60%, quando o usuário está em frente a uma tela, a Sociedade Brasileira de Oftalmologia recomenda que pequenas pausas de 5 a 10 minutos por hora sejam feitas pelo usuário, de preferência fixando a distância sem olhar para o monitor.

Além disso, os turnos de 4 horas no computador, smartphone e tablets devem ser interrompidos para pausas maiores para evitar maior desconforto visual, recomendando-se usar colírio hidratante (semcortisona) de 2 a 4 vezes por dia.

Também quem usa lente de contato, o ideal, se possível durante esse período de isolamento, deixar as lentes e usar óculos. Em caso de graus altos, se não for possível usar óculos, ter cuidados de lavar as mãos antes de colocar ou retirar as lentes de contato com água e sabão.

Nesta lavagem não usar álcool gel para não correr o risco de cair no olho e causar irritação. Lavar o estojo que guarda as lentes com água e sabão, e enxaguar bastante. Guardar as lentes na solução de esterilização e trocar esta solução diariamente.

Principais cuidados com os olhos das crianças e adolescentes sob o efeito do isolamento social:

• lavar as mãos com água e sabão (não usar álcool gel, pois resquícios de álcool, se caírem nos olhos vão causar irritações).
• se usar óculos: lavar as mãos antes de colocar e de retirar os óculos do rosto. Os óculos também devem ser lavados com água e sabão ao serem colocados e retirados do rosto. Não usar o pano flanelado que vem na embalagem dos óculos para enxugá-los. Enxugar as lentes e hastes dos óculos com um papel descartável macio, sem esfregar as lentes para não riscá-las. Nada próximo do olho pode ser contaminado.
• lentes de contato: devem ser evitadas durante este período de isolamento. As lentes estão em contato direto com os olhos e por si só já são meios de contaminação. Como os olhos são possíveis meios de contaminação, as lentes devem ser substituídas pelos óculos. Em caso de altas miopias e/ ou quadro que impeça o uso do óculos recomendando-se apenas as lentes, os cuidados habituais com os líquidos de esterilização  devem ser mantidos, mas acrescentar os cuidados com os estojos que guardam as lentes e com os balcões onde se usa fazer a manipulação com as lentes, ao colocá-las nos olhos. Rotina: limpar os balcões e pias com água e sabão, ou solução diluída de hipoclorito de sódio e bem enxaguado. Lavar os estojo e mãos com água e sabão e só após lavar e enxaguar bem as mãos, abrir o estojo para apanhar e colocar as lentes nos olhos. 
• não deixar as crianças com uso abusivo de telas eletrônicas (tv, computador, smartphones, tablets). O uso abusivo de telas eletrônicas trazem malefícios a todos;
• tomar sol – crianças envolvidas com dispositivos eletrônicos ficam muito em casa e acabam desenvolvendo deficiência em vitaminas.

Como o período de corona vírus deve ser em média 3 meses, isto não é tempo suficiente para trazer grandes malefícios à saúde dos nossos olhos e das crianças. Porém as informações abaixo, após o covid-19 devem ser disponibilizadas aos pais, que sem saber estão usando algo como entretenimento virtual, que acalmam às crianças, mas causando malefícios à sua saúde.

Após o covid-19:

Temos observado que nossas crianças têm começado cada vez mais cedo o uso de celulares, tablets e a assistir a filmes em vídeos e tv. Alguns estudos estão sendo feitos em medicina e isto tem demonstrado que o uso abusivo, principalmente de celulares, acima de 2 horas por dia, aumentaram algumas deficiências:

Miopia

Aumento de miopia: 40% de norte-americanos são hoje míopes, segundo trabalho publicado nos EUA. O número de casos dobrou entre 1972 e 2004 e continua crescer como fenômeno ligado ao avanço das telas eletrônicas.

Na Europa, a miopia prevalece 42.2% entre jovens de 25 a 29 anos de idade, quase 2 vezes mais do que entre 55 a 59 anos. Isto nos faz refletir que não é apenas um problema de refração dos olhos, mas mudanças de hábitos que estão causando isto.

Isto acarreta mais alterações oculares que se tornam um problema de saúde pública. Altos graus de miopia aumentam 21 vezes mais o risco de descolamentos de retina, 40 vezes mais o risco de glaucoma e 6 vezes mais o risco de catarata.

Depressão

De acordo com Cary Cooper, professor de Psicologia Organizacional e Saúde na Universidade de Lancaster, o uso abusivo de smartphones pode levar à depressão, estresse e insônia. A insônia ocasiona dificuldades de aprendizado.

A Universidade de San Diego publicou um artigo que sinaliza que adolescentes mais expostos aos dispositivos eletrônicos manifestaram diminuição de autoestima e menor índice de felicidade.

O periódico medicina preventiva e saúde publicado em 2012 analisou crianças entre 7 a 12 anos de acordo com intensidade de uso de telas eletrônicas e concluiu que as que passam muito tempo conectados possuem mais riscos para saúde. Entre os usuários intensos, 26.4% pensaram em suicídio. Taxa muito maior do que o usuário ocasional. E em 10% houve tentativas de suicídio, 4 vezes o registrado em usuários ocasionais.

Síndrome do Olho Seco

Ao usar as telas diminuímos o número de piscar e assim diminuímos a lubrificação dos nossos olhos. Isto causa prurido (coceira), hiperemia (olho vermelho), embaçamento e irritação nos olhos.

A síndrome de olho seco já atinge mais de 18 milhões de pessoas no brasil, segundo a associação dos portadores do olho seco (a.p.o.s).

Ceratocone

Dr. Renato Ambrósio (um dos médicos que desenvolveu a tomografia corneana, exame mais utilizado na análise de ceratocone) publicou um artigo em 2018 onde mostra que o número de pacientes com ceratocone hoje no brasil deve alcançar cerca de 1 para 250 habitantes. Os índices antigos eram 1 para 2000 habitantes. Esta doença acomete jovens e se não tratadas causam uma baixa acentuada e progressiva de visão, chegando a transplante de córnea. Um das associações frequentes ao ceratocone é o prurido. O “coçar os olhos” leva a deformidades corneanas e ceratocone. A idade que os sintomas do ceratocone apareciam usualmente era entre 10 a 15 anos de idade. Atualmente temos visto crianças entre 3 a 5 anos de idade com miopias e astigmatismos altos, acima de 3 graus já com exames que indicam suspeita de ceratocone. E com curvas altas, acima de 60d com indicações de transplante de córnea, sendo que o índice de rejeição em transplante acima de 21 anos de idade é muito alto.

Não há nada de errado com os smartphones e dispositivos eletrônicos, o problema é como usá-los. Seu uso abusivo pode liberar dopamina, conforme trabalhos publicados pelo National Institutes of Health nos Estados Unidos, um neuro transmissor que pode levar ao vício assim como as drogas.

Seus usos devem ser controlados em crianças.

Tomar um bom café da manhã, ter uma boa noite de sono, brincar ao sol (evita as deficiências de vitaminas), reunir, brincar e sorrir com amigos são mais importantes para a saúde mental das crianças e adolescentes do que as redes sociais.